Não tomo
bolinhas. Quero estar alerta, e por mim mesma. Fui convidada para uma festa
onde na certa tomavam bolinha e fumavam maconha. Mas minha alerteza é
mais preciosa. Não fui à festa: disseram que eu não conhecia ninguém mas que
todos queriam me conhecer. Pior para mim. Não sou domínio público. E não quero
ser olhada. Eu ia ficar calada. Maria Betânia me telefonou, querendo me
conhecer. Conheço ou não? Dizem que é delicada. Vou resolver. Dizem que fala
muito de como é. Estou fazendo isso? Não quero. Quero ser anônima e íntima.
Quero falar sem falar, se é possível. Maria Betânia me conhece dos livros. O Jornal do Brasil me está tornando popular.
Ganho rosas. Um dia paro. Para me tornar tornada. Por que escrevo assim? Mas
não sou perigosa. E tenho amigos e amigas. Sem falar de minhas irmãs, das quais
me aproximo cada vez mais. Estou muito próxima, de um modo geral. É bom e não é
bom. É que sinto falta de um silêncio. Eu era silenciosa. E agora me comunico,
mesmo sem falar. Mas falta uma coisa. Eu vou tê-la. É uma espécie de liberdade,
sem pedir licença a ninguém.
Que farei então? Deverei
continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo
lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me
adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que
tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o
resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura o bastante
ainda. Ou nunca serei.