Tive uma
angustiosa sensação de perda um dia desses. É que, sem pensar muito e
resolvendo na hora mesmo, mandei Luís Carlos, meu cabeleireiro, cortar os meus
cabelos bem curtos. À medida em que eram cortados e as mechas caíam mortas no
chão, eu olhava para o espelho e via como estava assustada com minha decisão. E
foi então que veio a noção de perda. Perda de quê? Ah, é tão antigo este
sentimento que se perde na noite dos tempos até atingir a Pré-História do
mundo: Mulher jamais corta os cabelos, porque nos cabelos longos é que está a
sua feminilidade. Inclusive, quando meus filhos eram menores, brincavam muito
com meus cabelos compridos, e um dia desses fui fazer uma visita e uma menina
de cinco anos resolveu, por conta própria, pentear-me toda e demoradamente. Foi
muito bom sentir que aquelas mãozinhas estavam tendo prazer. Resignei-me a ter
cortado, e me prometi que os deixaria crescer de novo. O que não impediu de, já
em casa, resolver o contrário: porque cabelos longos custam a secar, exigem
muito trato de escova, e precisa-se ir ao cabeleireiro para ficar embaixo dessa
tortura maluca que é um secador de cabelos. Com os cabelos curtos, lavo-os eu
mesma, fico um instante ao sol, e acabou-se. Mas surpreendi-me devaneando
assim: será que como Sansão perdi minha força? Não, não a força geral, mas
talvez minha força de mulher.