Não
posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real. O filho está
de noite com dor de fome e diz para a mãe: estou com fome, mamãe. Ela responde
com doçura: dorme. Ele diz: mas estou com fome. Ela insiste: durma. Ele diz:
não posso, estou com fome. Ela repete exasperada: durma. Ele insiste. Ela grita
de dor: durma, seu chato!” Os dois ficam em silêncio no escuro, imóveis. Será
que ele está dormindo? ― pensa ela toda acordada. E ele está amedrontado demais
para se queixar. Na noite negra os dois estão despertos. Até que, de dor e
cansaço, ambos cochilam, no ninho da resignação. E eu não agüento a resignação.
Ah, como devoro com fome e prazer a revolta.