Mas
quantas vezes a insônia é um dom. De repente acordar no meio da noite e ter
essa coisa rara: solidão. Quase nenhum rido. Só o das ondas do mar batendo na
praia. E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o
nada. É um nada a um tempo vazio e rico. E o telefone mudo, sem aquele toque
súbito que sobressalta. Depois vai amanhecendo. As nuvens se clareando sob um
sol às vezes pálido como uma lua, às vezes de fogo puro. Vou ao terraço e sou
talvez a primeira do dia a ver a espuma branca do mar. O mar é meu, o sol é
meu, a terra é minha. E sinto-me feliz por nada, por tudo. Até que, como o sol
subindo, a casa vai acordando e há o reencontro com meus filhos sonolentos.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Insônia infeliz e feliz
De repente
os olhos bem abertos. E a escuridão toda escura. Deve ser noite alta. Acendo a
luz da cabeceira e para o meu desespero são duas horas da noite. E a cabeça
clara e lúcida. Ainda arranjarei alguém igual a quem eu possa telefonar às duas
da noite e que não me maldiga. Quem? quem sofre de insônia? E as horas não
passam. Saio da cama, tomo café. E ainda por cima com um desses horríveis
substitutos do açúcar porque Dr. José Carlos Cabral de Almeida, dietista, acha
que preciso perder os quatro quilos que aumentei com a superalimentação depois
do incêndio. E o que se passa na luz acesa da sala? Pensa-se uma escuridão
clara. Não, não se pensa. Senta-se. Sente-se uma coisa que só tem um nome:
solidão. Ler? Jamais. Escrever? Jamais. Passa-se um tempo, olha-se o relógio,
quem sabe se são cinco horas. Nem quatro chagaram. Quem estará acordado agora?
E nem posso pedir que me telefonem no meio da noite pois posso estar dormindo e
não perdoar. Tomar uma pílula para dormir? Mas e o vício que nos espreita?
Ninguém me perdoaria o vício. Então fico sentada na sala, sentindo. Sentindo o
quê? O nada. E o telefone à mão.